Cooperativismo e ESG: Protagonismo transformador no Ano Internacional das Cooperativas 2025
- Gustavo Loiola
- há 17 horas
- 3 min de leitura

A cada nova crise global — climática, social ou econômica — percebemos que os modelos tradicionais de desenvolvimento estão em xeque. As estruturas convencionais, centradas exclusivamente no lucro e na competitividade, não têm sido capazes de responder às demandas de um mundo em transição. Diante desse cenário, cresce o apelo por modelos mais colaborativos, resilientes e regenerativos. Nesse contexto, o cooperativismo emerge como uma resposta potente — e necessária.
Reconhecendo sua relevância estratégica, a Assembleia Geral da ONU proclamou 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas, destacando a capacidade desse modelo de negócio de impulsionar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e fortalecer a coesão social e territorial. Trata-se de um reconhecimento global ao papel único que as cooperativas desempenham na construção de sociedades mais justas e sustentáveis.
Segundo a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), existem mais de 3 milhões de cooperativas no mundo, reunindo mais de 1 bilhão de membros. Juntas, elas geram cerca de 280 milhões de empregos — quase 10% da força de trabalho global — e movimentam trilhões de dólares em ativos. No Brasil, o cooperativismo está presente em mais de 50% dos municípios, com atuação relevante nos setores agropecuário, financeiro, saúde, habitação e trabalho.
Como coordenador de programas ESG voltados para cooperativas, tenho aprendido muito sobre esse ecossistema nos últimos anos. Apesar desses números já demonstram a capilaridade e a relevância do setor, o que torna o cooperativismo especialmente relevante no debate atual sobre sustentabilidade é sua estrutura baseada em princípios, e não apenas em resultados. O modelo cooperativo antecipa, na prática, os pilares que hoje orientam empresas que desejam ser mais responsáveis, éticas e sustentáveis.
Ambiental (E): cooperativas agropecuárias têm liderado práticas de agricultura regenerativa, gestão eficiente da água e energia limpa. Cooperativas de reciclagem evitam que milhões de toneladas de resíduos sejam destinadas a aterros ou ao meio ambiente a cada ano.
Social (S): o cooperativismo promove inclusão social, redução da desigualdade, geração de empregos locais e oportunidades para grupos historicamente marginalizados. No Brasil, por exemplo, as cooperativas de crédito são as únicas instituições financeiras em diversas regiões do interior do país.
Governança (G): um dos pilares do cooperativismo é a gestão democrática, com processos participativos e transparência nas decisões. Em um momento em que a confiança nas instituições está abalada, as cooperativas oferecem um exemplo de governança baseada em valores.
Como escrevi em artigos anteriores, o cooperativismo representa uma “nova onda para o capitalismo” — uma proposta que desafia a lógica extrativista predominante e propõe um pacto mais equilibrado entre capital, trabalho e natureza. Ao colocar as pessoas e os territórios no centro das decisões, ele rompe com a ideia de que a maximização de lucros deve ser o único norte da gestão empresarial.
Enquanto muitas empresas ainda buscam maneiras de incorporar os princípios ESG, as cooperativas já nascem com eles no seu DNA. Elas não precisam “fazer ESG” como algo externo ou forçado; elas são ESG por natureza, por essência e por prática.
O Ano Internacional das Cooperativas, que será celebrado em 2025, não é apenas uma homenagem simbólica. É uma oportunidade concreta de reflexão e ação. Ele nos convida a repensar o papel das organizações na construção de uma economia mais justa, inclusiva e regenerativa.
Diante da crise climática, da crescente desigualdade e da erosão da confiança nas instituições, o mundo precisa de modelos de negócio que restabeleçam vínculos de confiança, que distribuam poder e prosperidade, que respeitem os limites do planeta e que promovam o bem comum. O cooperativismo oferece justamente isso — e muito mais.
Em vez de olhar para o cooperativismo como uma alternativa marginal, é hora de colocá-lo no centro das discussões sobre o futuro do trabalho, da produção e da governança. Se queremos transformar o sistema, talvez não seja preciso reinventá-lo — talvez seja preciso apenas aprender com quem, silenciosamente, já vem fazendo diferente há mais de um século.
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