A sociedade cada vez mais tem questionado o posicionamento das empresas em relação aos problemas que enfrentamos diariamente. O conjunto de stakeholders - como clientes, funcionários, investidores, fornecedores, ONGs - cobram protagonismo frente a questões sociais e ambientais, como a grande gama de desigualdades existente no planeta ou as mudanças climáticas.
Consequentemente, percebemos que o conceito de sucesso empresarial mudou, considerando não só um desempenho financeiro satisfatório, mas também uma série de outros fatores. Um negócio de sucesso hoje em dia, é aquele que atende as necessidades da maior quantidade de pessoas possível, utiliza os recursos naturais de maneira eficiente e - mais importante - engaja e se relaciona com a maior parte dos seus stakeholders.
Essa é uma virada importante ao entendemos que a construção de um planeta mais sustentável e justo é um papel de todos, inclusive do setor corporativo. A conta é simples: nenhuma empresa irá prosperar em um planeta cheio de desigualdades, miséria e problemas ambientais.
Mas como avançar em uma agenda de sustentabilidade dentro das empresas?
É um consenso que a cultura empresarial é a forma mais efetiva de implementação de uma estratégia de sucesso, por isso que a sustentabilidade deve ser um tema tratado de maneira transversal e que permeie todas as dimensões da organização. Porém uma figura é essencial para todo esse processo: a liderança; Líderes inspiradores e defensores do tema estimulam uma ação top-down, acelerando processos, construindo metas e executando ações.
O estudo Leadership for the Decade of Action lançado em junho pelo Pacto Global da ONU e a consultoria Russell Reynolds, ouviu CEOs do mundo inteiro e constatou que 92% deles acreditam que a integração da sustentabilidade é um fator importante de sucesso para o futuro dos seus negócios - porém apenas 48% dizem que estão implementando a sustentabilidade em suas operações e ainda, só 21% acreditam que os seus negócios estão “fazendo a diferença” no atendimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. A pandemia do Coronavirus expôs grandes fraquezas em nosso sistema global e a necessidade que temos de um novo tipo de liderança. Com esses resultados percebemos que o entendimento da importância da sustentabilidade existe, mas ainda falta a ação.
Volto aqui a falar sobre a necessidade de uma cultura de sustentabilidade. Isso passa pelo processo de seleção de novos talentos, ou seja, o que as empresas valorizam ou exigem quando selecionam seus líderes tem grandes impactos para a estratégia e cultura organizacional. Apesar de vermos uma mudança nas expectativas dos stakeholders e do mercado, pouco se traduz em efetivas mudanças no perfil das lideranças da maioria das empresas.
O que seriam então as habilidades ideais para que um líder possa ser considerado sustentável?
O estudo da Russel Reynolds analisou o perfil de 55 CEOs e board members do mundo todo, gestores que tem uma relação conhecida com a sustentabilidade ao integrá-las em estratégias de negócio. O objetivo era entender as motivações e características que os tornam líderes com um mindset sustentável.
A definição de mindset sustentável se aproxima do propósito de cada um, que entende o negócio não apenas uma atividade econômica isolada, e sim que se relaciona com o contexto social e ambiental da sociedade, operando para ter sucesso a longo prazo. A gestão de um líder com esse modelo mental alinha os aspectos mais tradicionais do negócio com essas crenças e também valores pessoais.
Os atributos desses líderes podem ser resumidos no framework abaixo:
Pensamento sistêmico multinível
Os desafios que enfrentamos nos dias de hoje são complexos e sistêmicos por isso exigem novas formas de lidar. A colaboração é essencial para isso, e para tanto empresas devem se conectar com outras empresas, organizações, governos e academia. O ODS 17, discute a necessidade de parcerias para acelerar e construir soluções em conjunto. Ao reconhecer a interconectividade do ecossistema no qual seus negócios operam, esses líderes defendem e impulsionam resultados positivos gerenciando riscos de maneira eficaz e identificando oportunidades de crescimento de longo prazo.
Inclusão de stakeholders
Esse ano no Forum Econômico Mundial, o alemão Klaus Schwab clamou pela necessidade de migrarmos para um capitalismo de stakeholders, onde as partes interessadas possam fazer parte da estratégia dos negócios.
Os líderes sustentáveis não apenas gerenciam os stakeholders, mas sim os incluem a fim de tomar decisões mais assertivas que geram valor para todas as partes interessadas. Isso muda o jogo, ao criar uma relação de confiança e parceria que aumentam as capacidades e o impacto da organização.
Inovação disruptiva
Mais uma vez aqui vemos a inovação como uma aliada da sustentabilidade. Os participantes do estudo reconhecem que a transformação necessária para fazer um progresso real em direção aos ODS não acontecerá por meio de melhorias incrementais nos modelos de negócio tradicionais e sim com inovações disruptivas e exponenciais. A desburocratização de processos e o empoderamento dos times da organização ajudam a impulsionar a inovação necessária para encontrar novas soluções que conectam lucratividade e sustentabilidade.
Visão de longo prazo
Para entender a sustentabilidade é necessário exercitar o olhar para o futuro. O pensamento a longo prazo está relacionado a perenidade do negócio e demonstra inteligência ao refletir e projetar os potenciais riscos e impactos que podem vir a surgir. Líderes que não pensam a longo prazo podem perder oportunidades de inovar em relação à sustentabilidade, desenvolver seu capital humano, expandir para novos mercados, aumentar sua base de clientes, criar eficiências em seus processos produtivos e gerenciar com eficácia os riscos sociais e ambientais.
É evidente que não existe uma receita de bolo. Porém ao analisar os dados do Estudo é possível perceber que o mindset sustentável desses líderes convergem em tópicos que podem ajudar no processo de seleção e desenvolvimento de pessoas para assumirem posições estratégicas dentro das organizações. Como mencionei anteriormente nesse artigo, a sustentabilidade deve ser transversal à estratégia corporativa e para tanto a cultura é parte essencial para promover a mudança sistêmica necessária.
Vamos juntos?
Confira aqui o estudo completo (em inglês).
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