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Foto do escritorGustavo Loiola

A década da ação já começou


Desde o início desse ano, um senso de urgência ganhou pauta em uma série de notícias e artigos que tenho acompanhado. A chamada Década da Ação, foi clamada pelas Nações Unidas como uma forma de acelerar o progresso global rumo ao desenvolvimento sustentável até 2030. Nesse contexto, ao meu ponto de vista, é possível vislumbrar quatro principais desafios - oportunidades nessa jornada para os próximos 10 anos. Compartilho abaixo minhas reflexões:


Mudanças Climáticas e o impacto nos mercados A mudança climática em nível global é uma das grandes barreiras para o atendimento da Agenda dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Segundo o relatório The Heat is On, de 2019, cada país enfrenta problemas diversos relacionados as mudanças climáticas com impacto direto em suas economias e o efeito cascata causada por isso acaba afetando a vida de milhões de pessoas. Os desastres ambientais como furacões, derretimento de geleiras e - como vimos recentemente - queimadas e alto índice de chuvas, causam grandes destruições que impactam diretamente os indivíduos, aumentando a situação de vulnerabilidade em muitas famílias. Países pouco resilientes, são os que mais sofrem com essas mudanças, e consequentemente os que mais demoram para se recuperar. Por outro lado, em países como o Brasil, tem uma grande influência na produção agrícola que claramente tem relação direta com o clima. O pesquisador Marshal Burke, do Earth System Science da Universidade de Stanford, realizou um estudo que traz insightsinteressantes na relação das mudanças climáticas com a economia. Após estudar por cerca de 50 anos o impacto do aquecimento global no PIB, foi evidenciado que nos períodos com climas mais quentes que a média, os crescimento econômico aumentou nos países mais frios e reduziu nos países mais quentes. Voltando aqui a agricultura, os países mais frios (costumeiramente no hemisfério norte, desenvolvido) tem períodos reduzidos de geminação devido aos invernos rigorosos, ao mesmo tempo que com temperaturas mais elevados, a produção diminui de maneira acentuada.

Logo, países que seriam grandes importadores, passam a ter condições de produzir seu próprio alimento, ao invés de comprar de países de matriz agrícola (países do hemisfério sul na maioria das vezes), como por exemplo o Brasil, que segundo o estudo teria tido um crescimento 20% maior se não fosse o aquecimento global.

Transição do mercado de investimentos para a sustentabilidade O risco climático é um dos grandes fatores responsáveis pela transição do mercado de investimentos. Recentemente, o presidente da BlackRock - maior gestora de ativos do mundo - em sua carta aos clientes, anunciou uma mudança estratégica de investimentos, para posicionar a sustentabilidade no cerne no negócio. Responsável pela administração de mais de USD 7trilhões, Larry Fink, discutiu alguns dados do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas da ONU e estudos da McKinsey sobre as consequências socioeconômicas do risco climático físico e como impacta o sistema global que financia o crescimento econômico; Reflete sobre temas interessantes, como o trecho abaixo: “Por exemplo, nos Estados Unidos, será que as cidades serão capazes de suprir as necessidades de infra-estrutura à medida que o risco climático muda o mercado de títulos municipais? O que acontecerá com as hipotecas de 30 anos – um pilar fundamental das finanças – se os credores não puderem estimar o impacto do risco climático para um horizonte tão longo, e o que acontecerá com as áreas afetadas por enchentes ou incêndios se não houver um mercado de seguros viável para esses eventos? O que acontece com a inflação, e por sua vez às taxas de juros, se o valor dos alimentos aumenta devido à seca ou às inundações? Como podemos modelar o crescimento econômico se os mercados emergentes vêem sua produtividade cair como resultado das temperaturas extremamente altas e outros impactos climáticos?” Esses questionamentos são importantes na medida em que os investidores estão cada vez mais cientes que risco climático é um risco de investimento. Empresas com estratégias sustentáveis, são consideradas de menor risco devido a sua preocupação com a sociedade, diminuição das externalidades negativas e a visão perene para o futuro. Organizações que “remam contra a maré”, estão fadadas a encontrar um certo ceticismo por parte dos mercados, o que consequentemente amplia o seu custo de capital. A BlackRock dentro dessa estratégia anunciou que irá gradativamente buscar reduzir o risco de ESG- Environmental, Social and Governance - em suas atividades de investimento, avaliando o perfil de risco de retorno e as externalidades negativas; Um exemplo disso é que já iniciaram um processo para retirar investimentos em empresas que geram mais de 25% das suas receitas provenientes da produção de carvão térmico. Ao assumir esses compromissos frente a sociedade, a BlackRock apresenta uma tendência que estimula todo o mercado de capitais. Um outro exemplo pioneiro na América Latina desde 2005, é o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) operado pela B3, antiga Bovespa, que hoje reúne uma carteira de 36 ações de 30 companhias com soma R$ 1,64 trilhão em valor de mercado. Além de ser forte referência em opções de investimento socialmente responsáveis no Brasil, conforme se observa em seus relatórios, o ISE destaca-se pelo desempenho histórico acima dos índices apresentados pela própria B3.

Geração de valor para as partes interessadas Sabemos que o modelo empresarial que tivemos até mais recentemente é cada vez mais visto como grande responsável pelos problemas sociais, ambientais e econômicos - inevitavelmente a prosperidade empresarial era construída as custas da sociedade e das comunidades que estão em seu entorno. Nessa visão, enraizada desde a revolução industrial, o sucesso de uma organização sempre esteve relacionado a geração de mais dinheiro ou lucro, a curto prazo. Porém, essa chave virou. Nas últimas semanas no Fórum Econômico Mundial em Davos, se discutiu muito a importância das empresas servirem aos seus stakeholders, ou seja, basearem a sua estratégia no desenvolvimento das partes interessadas e não apenas dos seus acionistas.

É imperativo que as empresas entendam que o bem estar dos seus colaboradores, a satisfação dos clientes e da comunidade do entorno, o respeito ao meio ambiente e aos seus fornecedores, a transparência e a ética são essenciais para uma visão de prosperidade organizacional e visão a longo prazo.

Uma das estratégias para esse desenvolvimento estão nos princípios do valor compartilhado, onde o crescimento do valor econômico está também aliado a geração de valor da sociedade, conectando o sucesso da empresa ao progresso social. Inspiradas pelo propósito, muitas empresas vem mudando a sua maneira de pensar e agir, como é o caso da Starbucks (que mencionei em um artigo anterior), Nestlé e Carrefour, que tem estratégias sólidas baseadas nos três princípios do Valor Compartilhado (Porter e Kramer), que são: reconcepção de produtos e mercados, redefinição de produtividade na cadeia de valor e promoção e desenvolvimento de clusters locais.

Nova geração, novo mindset Por fim, aliados a todas essas transformações, temos a voz das novas gerações. Segundo pesquisa feita pela Anistia Internacional com a Geração Z (18-25 anos), para eles a mudança climática foi a questão mais importante enfrentada pelo planeta, citada por 41% dos jovens; No Brasil, a corrupção foi a mais citada, seguida pela instabilidade econômica, poluição e desigualdade de renda. Paralelo a isso, foi possível acompanhar pelas notícias nos últimos meses, uma série de manifestações em diferentes países por várias dessas causas, muitas delas lideradas por esses mesmos jovens: o protagonismo e o não conformismo é algo presente nas novas gerações. Estamos em um momento de transição geracional, com a ascensão dos Millenials dentro do ambiente corporativo e na tomada de decisão, bem como a chegada da Geração Z no mercado de trabalho.

São estudantes, empreendedores, consumidores e investidores que tem uma nova forma de enxergar o mundo e se relacionam de maneira diferente com as empresas que consomem ou trabalham.

É importante estar atento á esse novo mindset de uma geração com poder de compra de mais de U$ 3,5 trilhões de dólares e que segundo análise da Bloomberg, ainda esse ano ultrapassa os Millenials compondo 32% da população mundial. Assim como os Millenials, a Geração Z é bastante conectada ao propósito das empresas e valorizam a autenticidade, transparência e sustentabilidade. Um post do blog Consumidor Moderno trouxe alguns dados interessantes de uma pesquisa da DoSomething Strategic evidenciando que mais de 75% desses jovens já compraram ou comprariam um produto de uma marca que apoia causas em comum, e mais do que isso, estão dispostos a boicotar marcas: mais de 65% deixariam de comprar ou apoiar uma marca que não tivesse alinhada com os seus propósitos.

Entender o panorama atual que o planeta está e para onde estamos indo é o primeiro passo para que as organizações possam prosperar nesse futuro quase incerto. É necessário estar atento às transformações e oportunidades para responder de maneira ágil a esses desafios. Um bom roadmap é olhar para a os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e construir estratégias que estejam alinhadas a essas metas. Recentemente o Pacto Global, iniciativa da ONU, lançou uma ferramenta gratuita para ajudar empresas a adotar medidas para alcançar os ODS. O SDG Action Manager foi desenvolvido pelo B Lab em parceria com o Pacto e reúne uma avaliação de impacto, com a intenção de viabilizar a autoavaliação das empresas, benchmarking e a melhoria contínua.

Converse com seus pares, líderes e colegas para pensar em formas de construir um futuro diferente para as próximas gerações. Que tal ser parte da mudança?


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